O viajante do século, livro de Andrés Neuman, e Tick tick... boom!, filme de Lin-Manuel Miranda
Rafhael Frattari e Vinícius Vasconcelos
O viajante do século, livro de Andrés Neuman
Neste livro premiado pela Alfaguara como Melhor Romance de 2009, ano do seu lançamento, o escritor argentino retrata a permanência do personagem Hans na cidade de Wandernburgo, que deveria acolher o viajante apenas por uma noite.
No entanto, logo Hans se sente atraído pelos labirintos da cidade, que parecem se alterar a cada dia. A partida de Hans é sempre adiada por alguns fatos, até que ele se apaixona por Sophie, jovem prometida a um varão de uma das mais prestigiadas famílias locais. A obra é muito bem escrita e tem certa dose de realismo fantástico. Embora se passe no século XIX, trata de temas importantes e próprios aos desafios do século XXI.
É um romance intimista, mas nunca enfadonho. Uma obra permeada por questões políticas, sociais e literárias importantes relacionadas ao Ocidente e não somente à Alemanha, que é utilizada, como diz o autor, simplesmente por representar o melhor e o pior do que o Ocidente já produziu.
Um ótimo livro para o fim de férias.
Rafhael Frattari
Sócio da área Tributária do VLF Advogados
Tick tick... boom!, filme de Lin-Manuel Miranda
Ambientado no final da década de 1980, o filme de estreia na direção do premiadíssimo Lin-Manuel Miranda acompanha a história real de Jonathan Larson, um jovem compositor que pretende emplacar seu primeiro musical antes de completar 30 anos.
Para acompanhar o processo de criação artística e de amadurecimento de Larson, vencedor do prêmio Pulitzer e criador de Rent, um dos maiores sucessos da Broadway, o diretor investe na metalinguagem, o que significa uma série de números musicais sobre a criação de um musical. A princípio, há um estranhamento até que o expectador compre a ideia, mas não demora até que a construção seja orgânica.
As angústias do protagonista e daqueles que o rodeiam são tratadas com sensibilidade e sem maniqueísmo, o que torna fácil criar uma identificação com os personagens, mesmo quando tudo é cantoria.
Larson transforma qualquer coisa e qualquer momento em canções e sua genialidade artística se torna ainda mais evidente quando se percebe que a história futurística que criou na década de 1980 se tornou muito próxima à nossa realidade dos anos 2020.
A montagem do filme não hesita em mostrar ao expectador para onde a história se encaminha e permite que o protagonista, muito bem interpretado por Andrew Garfield, se torne seu próprio narrador. Ao invés de quebrar as expectativas, a estratégia permite aprofundar a conexão com Larson e não se torna uma fragilidade na construção do arco dramático, o que mostra a habilidade de Lin-Manuel Miranda como diretor.
Disponível na Netflix, Tick tick... boom! é um musical com uma dose incomum de realidade, pois conta a história de construir um caminho que vale a pena sob a certeza de que o tique-taque do relógio não para.
Vinícius Vasconcelos
Advogado da Equipe de Direito Tributário do VLF Advogados