Dopesick, série, e A Casa dos Espíritos, livro de Isabel Allende
Bruno Rabello e Katryn Rocha
Dopesick, série
Recentemente foram lançadas várias séries expondo as entranhas de grandes corporações ou de segmentos da indústria que adotaram práticas desonestas para ludibriar consumidores e investidores. É o caso de WeCrashed (Apple+), sobre a WeWork, de The Dropout (Star +), sobre a Theranos, e de Super Pumbed – A Batalha pela Uber (Apple+). Todas muito bem-feitas, com excelentes atores e capazes de agradar aos mais exigentes espectadores.
Entretanto, a melhor delas, que recebeu 14 indicações ao Emmy Awards (o Oscar da TV, que será entregue em 12 de setembro), é Dopesick (Star+), sobre o papel da Purdue Pharma, fabricante do medicamento OxyContin, na disseminação do vício em analgésicos opioides, manipulando pesquisas, subornando médicos e a própria agência reguladora.
Michael Keaton (já premiado com o Globo de Ouro e SAG Awards pelo papel) interpreta Samuel Finnix, médico de uma pequena cidade do interior, da qual a maior parte dos habitantes trabalha em mineração, estando expostos a pequenos acidentes e, portanto, mais sujeitos a serem medicados por fortes analgésicos. Acreditando no que os vendedores da Purdue Pharma pregavam, ele não apenas receita o remédio, mas eventualmente começa a tomá-lo, com consequências nefastas.
Em apenas oito episódios, a série é a garantia de que a indústria farmacêutica nunca mais será vista da mesma forma por quem assisti-los.
Bruno Rabello
Procurador do Estado
A casa dos espíritos, livro de Isabel Allende
Isabel Allende é uma escritora de quem muitos já ouviram falar, mas não tantos leram. Filha de um primo do presidente chileno Salvador Allende, é geralmente mencionada quando abordada a ditadura de Augusto Pinochet no Chile – uma das mais sangrentas da América Latina.
Allende deveria ser mais conhecida e lida, sobretudo no continente latino-americano. A ditadura contra a qual discursava e da qual fugiu, afinal, não foi um evento isolado, mas um entre tantos outros que marcaram os rumos da política do século XX.
Ao abordar a ditadura, Isabel Allende não foca apenas nos problemas locais, afinal, um governo autoritário será autoritário independentemente do tempo ou do espaço. Assim, a autora perpassa por problemas atemporais e adentra questões sobre feminismo e colonização já em seu primeiro livro A casa dos espíritos (1982), que é, possivelmente, seu maior sucesso e um clássico do realismo mágico e da literatura latino-americana.
Nele acompanhamos não só uma emblemática saga familiar, mas também um relato acerca de um período turbulento na história de um país latino-americano indefinido e, justamente por essa indefinição, o livro permite que compartilhemos as dores tão semelhantes entre os habitantes do sul do continente americano.
Isabel Allende constrói um mundo conduzido pelos espíritos e o enche de personagens expressivos e imperfeitos (ou seja, humanos) como os integrantes da família Trueba. Allende traz à vida uma família cujos laços são mais complexos e duradouros do que as lealdades políticas que os colocam uns contra os outros.
A casa dos espíritos apresenta uma narrativa instigante que costura passado, presente e futuro e a autora nos presenteia com personagens ricos em emoção e detalhes minuciosos a respeito do universo que os rodeia.
Katryn Rocha
Auxiliar de Comunicação do VLF Advogados