O Rei de Havana, livro de Pedro Juan Gutiérrez, e Perfect Blue, pérola esquecida da animação
Rafhael Frattari, Alexandre Bianchini e Bruno Fontenelle
O Rei de Havana, livro de Pedro Juan Gutiérrez
O autor cubano nascido em 1950 já exerceu vários ofícios, inclusive o de vendedor de rua, em Havana. Talvez isso ajude Pedro Juan Gutiérrez a descrever de maneira tão crua o submundo e as ruas de Havana, com os seus mendigos, drogados, putas e respectivos cafetões.
Narrado na década de 1990, o romance conta a história de Reinaldo, que perde a família num inusitado acidente, vai para o reformatório e acaba sozinho nas ruas de Havana. Daí passam por seu caminho vários personagens da fauna urbana da cidade, especialmente mulheres, que tratam Reinaldo como Rei de Havana, por suas habilidades eróticas.
Em comum, os personagens têm pouca esperança em encontrar um meio de sobrevivência formal e permanente, precisam lutar pelas necessidades mais básicas todos os dias. Interessante é como parece que o povo cubano trata questões sexuais de um modo mais libertário e, ao mesmo tempo, violento. A obra tem um bom ritmo, escrita bem agradável, mas não se engane, trata-se do mundo cão cubano. Na veia. Triste, às vezes até cruel, mas muito bom. Vale a pena demais.
Rafhael Frattari
Sócio da área Tributária do VLF Advogados
Perfect Blue, pérola esquecida da animação
“How do you know that the person you were one second ago is the same person that you are right now?”
Satoshi Kon foi um prodígio da animação japonesa, e, em sua curta carreira, dirigiu alguns dos mais aclamados filmes desse gênero. Perfect Blue, considerado sua obra-prima, sempre vale ser relembrado e recomendado: a obra tem como fio condutor a mudança na carreira de cantora pop para atriz da personagem fictícia Mima Kirigoe. Em seu primeiro trabalho como atriz, vários colegas de Mima são assassinados, tornando-a a principal suspeita, enquanto ela começa a sofrer pelo medo de estar sendo vítima de um stalker.
Já insegura pela mudança de carreira, Mima fica paranoica com a possibilidade de estar sendo observada, e, ainda, começa a desassociar com suas próprias memórias, paulatinamente perdendo o vínculo com a realidade. No entanto, o próprio conceito do real é desafiado para o espectador, assim como para a personagem.
É inevitável ficar assombrado e imerso com Perfect Blue, e a maior prova está no renomado diretor americano Darren Aronofsky, que homenageou a obra em alguns ângulos em seu Requiem for a Dream (2000), bem como utilizou da estrutura de paranoia interna para dirigir Black Swan (2010).
A direção é executada de maneira manipulativa, criando espaço para várias interpretações acerca dos eventos retratados e as imagens criadas por Satoshi Kon são extremamente marcantes, mesclando o belo com o perturbador. Sendo assim, por mais que se trate de um desenho japonês com um início de aparência relativamente inocente, Perfect Blue surpreende em sua escalada para a angústia e insanidade. É um filme que representa a alucinação para e com o sucesso – que certamente merece ser visto.
Alexandre Bianchini
Advogado da Equipe de Consultoria do VLF Advogados
Bruno Fontenelle
Advogado da Equipe de Direito Administrativo e Regulatório do VLF Advogados