Aftersun, filme-memória de Charlotte Wells, e Uma Tristeza Infinita, livro de Antônio Xerxenesky
Alexandre Bianchini, Bruno Fontenelle e Katryn Rocha
Aftersun, filme-memória de Charlotte Wells
There’s this feeling, once you leave where you grew up, that you don’t totally belong there again.
Aftersun é uma breve recordação cinematográfica de uma viagem que a diretora Charlotte Wells, representada por Sophie, fez com seu pai enquanto criança. O filme retrata essa viagem pelos olhos de Sophie, que começa a vivenciar as primeiras impressões da vida adulta – sempre com o carinho constante do pai.
Mesmo em um ambiente de total afeto entre pai e filha, ao longo de Aftersun conseguimos perceber que nem sempre conhecemos todas as camadas e lutas de quem anda ao nosso lado. É a percepção de que o amor incondicional não é suficiente para conseguir blindar o esforço de não demonstrar os demônios internos.
Além disso, o filme retrata como nem sempre identificamos as ocasiões que nos deixarão as marcas mais profundas: lembraremos apenas os momentos banais, justamente por não compreender o que as pessoas estavam passando.
Sendo assim, Aftersun aborda a busca incessante pela memória, atribuindo novos sentidos a acontecimentos do nosso passado, seja na infância, seja na adolescência: é a tentativa de reconciliação com um passado que não mais existe, analisando e reanalisando o impacto dessas memórias à medida que crescemos e amadurecemos.
É a percepção doída que temos durante a vida adulta da humanidade dos nossos pais. O filme vale ser visto para quem deseja explorar os vínculos e as memórias que temos durante a vida.
Aftersun foi indicado (injustamente, pois tão somente) para o prêmio de melhor ator pela atuação de Paul Mescal. Disponível na plataforma de streaming Mubi e ainda em alguns cinemas de Belo Horizonte, em janeiro.
Alexandre Bianchini
Advogado da Equipe de Consultoria do VLF Advogados
Bruno Fontenelle
Advogado da Equipe de Direito Administrativo e Regulatório do VLF Advogados
Uma tristeza infinita, livro de Antônio Xerxenesky
Uma tristeza infinita, publicado pela Companhia das Letras, é o livro vencedor do prêmio São Paulo Literatura 2022 na categoria Melhor Romance. Após explorar (e subverter) gêneros literários como o terror em As perguntas, o policial em F e o faroeste em Areia nos dentes, a quarta obra de Antônio Xerxenesky indica mudança significativa em sua carreira, mas uma para a qual ele, aparentemente, sempre se preparou.
Ambientado na Suíça após a Segunda Guerra Mundial, o romance foca na trajetória do médico Nicolas, que se confronta com sua própria história ao tratar os pacientes. Junto de sua esposa Anna, Nicolas se muda para um pequeno vilarejo próximo ao hospital psiquiátrico em que vai trabalhar, lugar conhecido pela prescrição de métodos humanizados e que rechaça o uso de tratamentos como o eletrochoque, e que recebe pessoas de toda a Europa.
Nicolas conversa com seus pacientes até que algo seja descoberto, tanto no inconsciente do doente quanto no dele próprio, e, dessa forma, diversas feridas de guerra vêm à tona, em um jogo delicado que mistura confiança e loucura.
Em uma narrativa tanto introspectiva quanto brutal, dividida entre os traumas de um passado recente e o medo do futuro, o livro estabelece um drama psicológico em meio às ruínas físicas e mentais deixadas por um dos eventos mais avassaladores que o mundo já viu. Tendo como pano de fundo o contexto de desenvolvimento das primeiras drogas contra a depressão e outras doenças psíquicas, Xerxenesky constrói um romance tocante sobre os traumas, o passado e a possibilidade de ser feliz apesar do sofrimento.
Katryn Rocha
Auxiliar de Comunicação do VLF Advogados