O triângulo da tristeza, filme de Ruben Östlund, e O som do rugido da onça, livro de Micheliny Verunschk
Rafhael Frattari e Katryn Rocha
O triângulo da tristeza, de Ruben Östlund
O filme do diretor sueco é uma mordaz crítica ao capitalismo e aos papéis que cabem às pessoas em época de redes sociais. A trama se inicia com um jovem casal de modelos, que mantém uma relação de interesse mútuo, em que se começa a aparecer tensões sobre o que se espera de cada parte envolvida.
Logo, o casal ganha uma viagem num iate superexclusivo, povoado por magnatas estereotipados. Daí talvez venha a força do filme, no exagero e no destaque às características de cada personagem. São impagáveis os velhinhos britânicos que fabricam armas para o terceiro mundo. Também hilária a discussão entre o comandante americano comunista e o russo oligarca.
O filme evolui para uma tragédia, em que os papeis e a importância das pessoas se invertem radicalmente, trazendo uma nova organização social para as pessoas, que acabam se adaptando a ela, algumas mantendo o que sempre foram.
É uma película inteligente, de humor sagaz, que sai da mesmice do cinema mainstream. Lembrou-me um pouco Magnólia, obra-prima estrelada por Tom Cruise, de Paul Anderson. Ótima diversão.
Rafhael Frattari
Sócio da área Tributária do VLF Advogados
O som do rugido da onça, de Micheliny Verunschk
O som do rugido da onça, publicado pela Companhia das Letras, é o livro vencedor na categoria Romance Literário do prêmio Jabuti 2022. O quinto romance de Micheliny Verunschk, escritora, crítica literária e historiadora brasileira, joga luz sobre a história de duas crianças indígenas raptadas no Brasil do século XIX.
A partir de visita de Verunschk à coleção Brasiliana do Itaú Cultural em São Paulo e da observação de duas litogravuras elaboradas pelos naturalistas europeus Spix e Martius, que retratam duas crianças indígenas, o livro, beneficiado pelo fato de a autora ser historiadora, surge como uma ficção que dá protagonismo e voz para as crianças, para além da versão europeia e colonizadora.
Com a missão de registrar suas impressões sobre o Brasil, os exploradores desembarcaram no país e três anos depois voltaram a Munique levando consigo não apenas um extenso relato de viagem, mas também as crianças amazonenses Iñe-e e Juri, que foram separadas de seus contextos, de suas famílias, de suas culturas, entre outras violências, e transplantadas para a Alemanha como souvenires exóticos dessa expedição pretensamente científica.
O romance conta também com um segundo núcleo narrativo, em que acompanhamos Josefa nos dias atuais, que encarna o visitante da coleção Brasiliana que se encontra diante das litogravuras e se questiona acerca de quem é e quais são suas origens.
Os dois núcleos narrativos se intercalam durante a leitura, o que nos coloca em uma não linearidade temporal. Ao compararmos os dois núcleos, tão díspares pela época em que se passam, ficam evidentes as possibilidades e impossibilidades de transpor e expressar modos de pensamento, assim como as vivências surgidas em diferentes pontos do tempo e do espaço.
Por meio da costura de diferentes vozes e lugares, O som do rugido da onça nos entrega uma narrativa emocionante.
Katryn Rocha
Auxiliar de Comunicação do VLF Advogados