Febre de bola, livro de Nick Hornby, e O Lodo, filme de Helvécio Ratton
Rafhael Frattari, Alexandre Bianchini e Bruno Fontenelle
Febre de bola, livro de Nick Hornby
O livro conta a história da personagem principal durante vários anos, mas se centra no início de sua carreira profissional, como escritor iniciante, e amorosa. Até então seria uma obra qualquer, como muitas com esse mesmo pano de fundo: o escritor que usa um escritor de personagem. Um ponto interessante é que a literatura de Hornby pode ser qualificada de “autoficção”, estilo que vem ganhando muitos adeptos, como exemplifica a francesa Annie Ernaux, prêmio Nobel de Literatura em 2022.
Na narrativa de Hornby a vida do nosso personagem é simplesmente preenchida pelo seu amor pelo futebol e pelo Arsenal, time do norte de Londres. Os eventos que marcam a sua experiência são sempre descritos como se acompanhassem a trajetória dos Gunners, ou seja, é o futebol e a relação do personagem com o Arsenal que traz os eventos vividos ao longo da obra.
Assim como o personagem principal, trata-se também do primeiro livro de Nick Horby, britânico que é o autor de Alta Fidelidade, que se tornou um filme de sucesso com o eixo voltado para a música, além de outros romances legais. A obra mostra que desde o início de sua carreira o autor tem um envolvimento e interesse pelos temas culturais, como a música, o futebol, os costumes e até o Brexit, discutido em seu último livro publicado no Brasil, pela TAG.
Para quem gosta de futebol é um livro muito bom. Para quem gosta da Permier League, é imperdível, mas mesmo para os menos aficionados, vale muito a leitura.
Rafhael Frattari
Sócio da área Tributária do VLF Advogados
O Lodo, filme de Helvécio Ratton
O Lodo, filme do diretor mineiro Helvécio Ratton, retrata Manfredo, um ordinário funcionário de seguradora de Belo Horizonte que busca tratamento para suas mazelas psicológicas com o Dr. Pink, psiquiatra. No entanto, à medida que Manfredo decide descontinuar o tratamento, o médico revela-se obsessivo com o paciente, perseguindo-o não só pelas ruas da cidade, mas também em seus próprios sonhos.
O filme, baseado em conto homônimo de Murilo Rubião, é um thriller psicológico em que a realidade e o cotidiano são atravessados pelo absurdo encontrado na relação problemática entre o médico e o paciente. Com contornos kafkanianos, o filme aborda questões psicológicas como trauma, culpa, sintoma e negação, em meio a uma história de cunho fantástico, em que a absurdez é encarada com naturalidade, sem causar surtos ou estranhamentos nos personagens.
Com atores do Grupo Galpão e com cenas filmadas no centro de Belo Horizonte, o filme tem a marca de trazer questões relacionadas à paisagem da capital mineira com temas de cunho existencial e psicológico. Tais questões regionalistas são marcas da direção de Ratton, conforme outros filmes do diretor como Em nome da razão, O mineiro e o queijo, O batismo de sangue e Menino Maluquinho – filmados essencialmente em Belo Horizonte.
Por fim, o filme propõe uma reflexão não só sobre o sentimento de alienação e distanciamento contemporâneo, mas também sobre o procedimento de análise psicológica e cura através da fala.
O Lodo está disponível nos cinemas.
Alexandre Bianchini
Advogado da Equipe de Consultoria do VLF Advogados
Bruno Fontenelle
Advogado da Equipe de Direito Administrativo e Regulatório do VLF Advogados