Indignação, livro de Philip Roth, e O assassino e outros filmes de David Fincher
Rafhael Frattari e Katryn Rocha
Indignação, livro de Philip Roth
Philip Roth é um dos maiores romancistas modernos americanos de todos os tempos, isso já seria razão suficiente para que a sua obra inteira fosse lida, especialmente porque grande parte dela está traduzida para o português, sob os auspícios da editora Companhia das Letras.
Em Indignação, Roth narra a vida do jovem Marcus Messner, que deixa a faculdade de Newark em direção à pequena Universidade de Winisburg, para ficar longe do pai, que começa a ter traços psicóticos em relação à proteção do filho.
Na Universidade, a única preocupação do jovem Marcus é com os seus estudos, pelos quais pretende acender socialmente rumo ao sonho americano. No entanto, ele encontrará obstáculos imprevistos na vida universitária, como colegas de dormitório singulares, fraternidades desinteressantes e um amor sem lugar. Tudo isso, somado à perseguição do direito da instituição. As páginas dedicadas à discussão sobre a obrigatoriedade de frequentar o culto na Universidade entre o protagonista e o diretor são inspiradas no texto de Bertrand Russel chamado “Why I am not a Christian” e, por si só, valem o livro.
Uma pequena obra na grande produção de Roth que é uma ótima introdução aos seus temas prediletos. Vale a pena ler!
Rafhael Frattari
Sócio-fundador responsável pela Área Tributária do VLF Advogados
O assassino e outros filmes de David Fincher
Lançado em 2023 diretamente na plataforma de streaming Netflix, O assassino é um filme dirigido por David Fincher e protagonizado por Michael Fassbender. Nele, acompanhamos o matador de aluguel sem nome que é muito metódico, economizando até o número de piscadas e a fala – restringindo-se a monólogos internos – em prol do rigor. Entretanto, o diretor retira a aura de glamour muito comum nesse estilo de filme hollywoodiano e nos apresenta um personagem que trata o ato de matar com a indiferença de quem elabora planilhas do Excel e que, contradizendo o discurso de abertura sobre como o trabalho deve ser bem executado, a história gira em torno desse assassino supostamente perfeccionista lidando com as consequências de um erro desastroso.
Conhecido por seus trabalhos no gênero thriller, David Fincher é um premiado diretor e produtor, cujos filmes tiveram cerca de 40 indicações ao Oscar. Com a predileção por criminosos e seus métodos, a obsessão do policial, ou do repórter, ou quem quer que esteja investigando, a obsessão pela mente do criminoso é algo que permeia a obra de Fincher.
Iniciando sua carreira dirigindo videoclipes, em pouco tempo Fincher obteve seu primeiro grande sucesso, em termos tanto de crítica quanto de público, com o filme Seven (1995). Possivelmente ainda um dos filmes mais conhecidos de sua carreira, assim como um dos que mais influenciaram e seguem influenciando o gênero thriller, o filme é ambientado em uma cidade anônima, chuvosa e violenta, onde um assassino em série conhecido apenas como “John Doe” comete assassinatos baseados nos sete pecados capitais. Nele acompanhamos dois detetives da divisão de homicídios, o jovem e imaturo David Mills e o experiente e sínico William Somerset, enquanto eles buscam desvendar a identidade do assassino em série, através de pistas em leituras bíblicas e cenas dos crimes, que são revelados um a um por dia, de acordo com a vontade do criminoso. O suspense é tão bem construído, que o espectador olha para a tela aguardando a revelação do próximo crime e como esse crime irá se relacionar com o modus operandi do assassino, sempre de forma muito impactante, até o último minuto do filme.
Superando Seven em termos de popularidade, em 1999 é lançado O clube da luta, excelente filme, que, entretanto, é um dos campeões em má interpretação por parte do público, que se apropria erroneamente das ideias que estão sendo criticadas e acabam exaltando um modelo de masculinidade, que é satiricamente criticado por Fincher.
Sendo o sexto filme de sua carreira, em 2007 foi lançado Zodíaco, filme parcialmente baseado no livro homônimo de Robert Graysmith, e que, curiosamente, ao mesmo tempo que é sobre o assassino do Zodíaco, ele não é, porque seu foco principal é a investigação em si (e não necessariamente os investigadores), de quão obcecadas as pessoas ficaram por esse mistério enlouquecedor e por mais de duas décadas tentaram descobrir a identidade do assassino, mas todas as tentativas foram infrutíferas. Fincher apresenta abordagem de uma história “true crime” diferente da que estamos acostumados. Enquanto em Seven entendemos a brutalidade dos crimes sem a necessidade de vê-los acontecendo, em Zodíaco, Fincher reconstitui os assassinatos ou tentativas tais como eles foram relatados pelas vítimas. O ponto de vista de destaque é o da vítima.
Lançado em 2011, Os homens que não amavam as mulheres é baseado no primeiro livro da série Millennium de Stieg Larson, e acompanhamos Mikael Blomkvist, jornalista investigativo econômico envolvido em caso judicial por calúnia e difamação, que é recrutado, nesse meio tempo, por Henrik Vanger com o pretexto de escrever uma biografia, quando o motivo real é investigar o que aconteceu com Harriet Vanger, sua sobrinha desaparecida há 40 anos, e, ao mesmo tempo, acompanhamos Lisbeth Salander, a coprotagonista de Blomkvist, que atua como investigadora e na esfera particular de sua vida, sofre por negligência e abuso de representantes do Estado em diferentes momentos. Trata-se de uma história absolutamente madura e adulta, que, para além dos assassinos em série, não teme adentrar, de modo responsável, em temáticas pesadas, como violência contra a mulher, corrupção industrial e anti-semitismo.
Fincher ainda tem em seu currículo, filmes como O quarto do pânico (2002), A rede social (2010), Garota exemplar (2014) e Mank (2020) e outras produções como House of Cards e Mindhunter (ambas da Netflix) e tem sua posição consolidada como um dos cineastas mais influentes na indústria cinematográfica.
Para os amantes do gênero thriller, a filmografia de David Fincher é imperdível.
Katryn Rocha
Auxiliar de Comunicação do VLF Advogados