A Insustentável Leveza do Ser, livro de Milan Kundera, e Zona de Interesse, filme de Jonathan Glazer
Rafhael Frattari e Katryn Rocha
A Insustentável Leveza do Ser, livro de Milan Kundera
Obras com títulos tendentes a aforismos filosóficos costumam afastar leitores menos entusiasmados, sobretudo se o livro é considerado um clássico. Por isso, suponho que muitos não se animem com a obra do genial Milan Kundera. Uma pena, porque o livro é acessível a todos e traz temas diversos, desde como relações familiares moldam personalidades e futuras relações amorosas até a situação política na Tchecoslováquia, na época da famosa Primavera de Praga, com o recrudescimento da cortina de ferro e a ditadura comunista.
A obra basicamente gira em torno da vida de poucos personagens, dentre os quais o médico Tomás e a fotógrafa Tereza, cujas histórias se cruzam e vão se alternando ao longo da narrativa, com a inclusão de outras pessoas e até de uma cadela! Há muitas discussões filosóficas profundas, mas que são apresentadas pelo autor de forma leve e nunca enfadonha.
O erotismo está presente em várias passagens do livro, mas se apresenta de maneiras diferentes, em relação a cada personagem, o que é uma das riquezas da narrativa. Uma obra que se destaca pela excelente construção psicológica dos personagens, pela denúncia crítica da política imposta pela ex-União Soviética ao leste europeu, inclusive em relação à arte e ao exercício profissional, e pela descrição de várias formas de amar.
Leitura excelente, com um belo texto. Enfim, um clássico que está à altura do título.
Rafhael Frattari
Sócio-fundador responsável pela Área Tributária do VLF Advogados
Zona de Interesse, filme de Jonathan Glazer
Vencedor do “Grande Prêmio” no 76º Festival de Cinema de Cannes, da categoria “Melhor Filme Britânico” do BAFTA e favorito ao Oscar para “Melhor Filme Internacional”, o longa-metragem dirigido por Jonathan Glazer, Zona de Interesse, é um drama histórico que se passa durante a Segunda Guerra Mundial e apresenta a vida doméstica do comandante nazista Rudolf Höss (Christian Friedel).
Misturando drama, guerra e história, o horror da Shoah é abordado de forma um pouco diferente da que estamos acostumados. Ao invés de recorrer à violência explícita e focar nos campos de batalha ou nos campos de concentração, a produção retrata a frieza e o descaso da família Höss, que vive a alguns metros de Auschwitz, separados apenas por um muro, como um contra-campo da barbárie.
No filme, acompanhamos a normalidade da vida cotidiana daqueles que estavam no alto comando das operações, indiferentes aos tiros, aos gritos, às cinzas, aos esqueletos. O foco está completamente naqueles que conseguem ignorar as atrocidades e ilustra a banalização do mal, cuja exibição nunca está em dúvida, mas a sua incapacidade de se reconhecer como tal só é capaz de tomar forma na ausência da sua obviedade. Zona de Interesse busca expor como acontecimentos abomináveis da História foram permitidos por pessoas que achavam não precisar vê-los.
A produção estreou em 15 de fevereiro no Brasil e está em cartaz nos cinemas.
Katryn Rocha
Auxiliar de Comunicação do VLF Advogados