Uma casa no fim do mundo (livro) e 1 Contra Todos (minissérie)
Pedro Ernesto Rocha e Rafhael Frattari
Uma casa no fim do mundo
Um bom livro é como um poço. Você cai nele e não consegue sair. Ou, então, pode ser como uma festa. É, uma festa. Daquelas que você não queria ir, acaba indo, e depois não quer ir embora de jeito nenhum.
Nos dois casos, entretanto, uma hora você sai. Alguém lhe resgata à luz socorrendo-o do poço ou a música parar de tocar indicando o fim da festa. Não importa. O que importa é que, ao retornar à realidade, quase sempre, você leva um sentimento.
Ao ser concluído, Uma casa no fim do mundo consegue justamente isso, sensibilizar o leitor, marcando até o mais incauto dos céticos conservadores.
Narrado sob a perspectiva de quatro pessoas diferentes, o livro escrito por Michael Cunninghan e publicado em 1990 nos apresenta uma história que perpassa cerca de duas décadas, começando nos anos 1960, e abrange temas fundantes, como maternidade, amizade, sexualidade, as variadas formas de família, e, sobretudo, a capacidade de amar.
Logo no primeiro capítulo conhecemos Bobby, talvez o principal protagonista entre os demais, e imediatamente nos vemos absorvidos pela sua história. Momentos deliciosos se passam (para o leitor e para o personagem), em festas de família alegres – e descritas com alguma ironia –, em fatos comuns e incomuns de uma puberdade retratada de maneira realista e ao mesmo tempo sensível.
Acompanhamos Bobby até a vida adulta, vivemos sua vida, desejamos seus desejos – e nos questionamos sobre a ausência deles – e sofremos suas desgraças familiares. No caminho, e desde as primeiras páginas, vamos conhecendo Jonathan, Alice e Clare, personagens que trazem, cada um a seu modo, belas nuances sobre os relacionamentos humanos e seus afetos por vezes inesperados e incontidos.
Certamente cenas marcantes jamais serão esquecidas. Encontros estranhos que começam na sala e terminam com uma dança no telhado; uma fuga familiar antevista pelos observadores das fugitivas, mas nunca verbalizada antes de propriamente ser concretizada; um potencial espalhamento e um real espalhamento de cinzas…
Michael Cunninghan ficou mundialmente famoso pelo livro As horas, adaptado em filme estrelado por Meryl Streep, Julianne Moore e Nicole Kidman, aclamado pela crítica e vencedor do Oscar de Melhor Atriz (Nicole Kidman). Porém aqui, neste trabalho provavelmente mais imberbe, já evidenciava seu talento.
Apesar de já terem se passado vinte anos da primeira publicação de Uma casa no fim do mundo, os temas nele abordados são extremamente atuais.
Assim, esta recomendação de leitura me parece bastante oportuna, pois, com muita sutileza, o livro nos rememora um conceito universal, antigo, infelizmente muito desgastado na contemporaneidade, e que, em qualquer lugar e a qualquer tempo, deve-se ter consigo mesmo e deve-se ter com o próximo: respeito.
Pedro Ernesto Rocha
Advogados e Coordenador da Equipe de Consultoria do VLF Advogados
1 Contra Todos
Escrita por Gustavo Lipsztein, Thomas Stavros e Breno Silveira, e dirigida por Breno Silveira e Daniel Lieff, a minissérie 1 Contra Todos exibida pela Fox tem 4 temporadas e sua história encerrou-se, com todos os episódios disponíveis no Globoplay. Ela narra a vida de Cadu (Júlio Andrade), um advogado idealista, que perde o emprego e é preso por engano. Na cadeia, todos acreditam que ele é um chefão do crime. Depois de assumir o falso papel, ele acaba envolvido numa disputa com o diretor da prisão. A minissérie acaba evoluindo para o cenário político em Brasília e retrata várias negociatas, sempre envoltas em relações pouco republicanas. Depois de Brasília, vem a Bolívia!
Embora não seja um primor dramático, a série foi bastante elogiada e indicada para vários prêmios. O seu enredo é envolvente, a direção super bem feita e há personagens marcantes, para além de Cadu, o ótimo Júlio Andrade (o médico carioca da série global Sob Pressão), como sua esposa que tem uma representação excelente durante toda a história, a cargo da atriz Júlia Ianina. Isso sem falar em atores experimentados, como Sílvio Guindane, em interpretação ímpar.
A fotografia também merece destaque, especialmente as cenas de ação e dos cenários na Bolívia. Como cereja do bolo, a trilha sonora é super bem colocada, sobretudo as canções do Jonnhy Hooker, que caem como uma luva na narrativa da obra.
Merece ser vista por quem gosta de produções nacionais e em homenagem ao desempenho dos atores citados.
Rafhael Frattari
Sócio-fundador do VLF Advogados