O Dilema das Redes (documentário) e A Vida Secreta dos Escritores (livro)
Alice Azevedo e Rafhael Frattari
O Dilema das Redes
“Se você não está pagando pelo produto, então você é o produto”. Esta citação emblemática do ex-colaborador das plataformas digitais Firefox e Mozilla Labs, Aza Raskin, aparece no documentário O Dilema das Redes.
Lançado pela Netflix em setembro de 2020 e dirigido por Jeff Orlowski, a série estadunidense é classificada como um docudrama por mesclar um documentário investigativo contendo depoimentos de ex-colaboradores de gigantes da tecnologia com o drama de uma família fictícia viciada em mídias sociais.
Os depoimentos coletados são de especialistas da indústria da tecnologia, ex-engenheiros, designers e CEOs de empresas como Google, Facebook, Instagram, Twitter, Youtube e Pinterest. De maneira didática, os entrevistados explicam que inicialmente as plataformas digitais foram criadas para ter um impacto positivo na vida das pessoas, mas com o aperfeiçoamento da inteligência artificial, o sucesso das mídias sociais está cada vez mais ligado à saúde mental das pessoas.
O modelo de negócios é escancarado ao telespectador: toda a monetização é gerada a partir da atenção dos usuários. O lucro provém de publicações, curtidas, marcações, notificações, recomendações de vídeos, engajamento.
Os dados pessoais são armazenados e utilizados para que o algoritmo fique acurado em prever o padrão comportamental de cada usuário, sendo o lucro dessas empresas obtido com a publicidade paga pelo anunciante e direcionada para um tipo de perfil.
Em outras palavras, o algoritmo sabe os gostos de seus usuários baseado no tempo despendido nas mídias sociais e vende aos anunciantes a garantia de uma publicidade bem sucedida.
Dois problemas abordados pelo documentário estão diretamente ligados à maneira que as mídias sociais afetam as relações da sociedade: pela manipulação e pela desinformação.
A vulnerabilidade psicológica humana é altamente explorada pelas gigantes da tecnologia, que manipulam as emoções dos usuários durante o uso através de métodos capazes de estimular a dopamina, neurotransmissor que libera sensações de prazer e bem-estar. Estas ferramentas tornam as mídias sociais cada vez mais viciantes.
Nesta direção, com o uso desenfreado e o consumo direcionado apenas aos gostos daquele usuário, identificamos a origem das fake news.
As plataformas digitais são ferramentas de persuasão, mas não há critério sobre a veracidade das informações disponibilizadas. Isto implica na disseminação de notícias falsas, pois o algoritmo não sabe distinguir as informações verdadeiras das falsas antes de viralizar na internet.
Algumas conclusões são tiradas ao longo das entrevistas, mas a principal delas segundo os especialistas é a responsabilidade das plataformas digitais pela polarização mundial em razão do seu potencial de influência sobre as pessoas, sendo imprescindível a regulamentação de sua atuação.
A todo momento o documentário apresenta a utopia e a distopia do uso de ferramentas digitais com o objetivo de criar uma consciência crítica nos usuários, para que estejam cientes das consequências do consumo desenfreado da internet na sociedade.
Vale a pena assistir para entender os bastidores da gigante indústria da tecnologia.
Alice Azevedo
Advogada da Equipe de Direito Consumerista do VLF Advogados
A Vida Secreta dos Escritores
A vida secreta dos escritores chegou ao Brasil pela Editora TAG, um ano após ser lançado na França. O autor Guillaume Musso é um dos jovens autores franceses mais vendidos, e já foi traduzido para dezenas de idiomas, quase sempre em thrillers de ação e suspense muito bons.
Em A vida secreta, o autor retrata a vida de um jovem escritor. Em vias de publicar a sua primeira obra, ele parte em busca do famoso Nathan Fawles, escritor de alguns best sellers, que repentinamente parou de escrever no auge do sucesso, retirando-se também da vida social. A lenda em torno de Fawles diz que ele havia se isolado numa idílica ilha do Mediterrâneo, Beaumont.
Nosso protagonista, então, se dirige à ilha, onde se passa a maior parte da história, para encontrá-lo e compreender o que haveria levado o ídolo à aposentadoria precoce. O que o nosso jovem protagonista não sabia era que mais gente também procurava por Nathan Fawles. Surge uma ligação poderosa entre o mistério de Fawles e dois crimes brutais, dando início a uma inteligente e ágil trama.
O livro é muito bem escrito, simples e direto. Não é uma literatura com apelos estéticos, mas garantia de uma boa história, prontíssima para ser adaptada às telas. Como tem dois personagens escritores, é inevitável algumas reflexões sobre o ofício, que tornam a obra ainda mais legal, com inúmeras epígrafes legais ao longo dos capítulos. Outro ponto positivo é que o livro é pequeno, menos de 150 páginas. Você não o deixará de lado até o fim. Não perca também os outros livros do autor, são muito bons. Diversão garantida.
Rafhael Frattari
Sócio fundador do VLF Advogados, responsável pela área tributária