O delator: a história de J. Hawilla, o corruptor devorado pela corrupção do futebol, de Alan de Abreu e Caros Petrocilo (livro) e Negação (filme)
Rafhael Frattari e Eduardo Metzker Fernandes
O delator: a história de J. Hawilla, o corruptor devorado pela corrupção do futebol, de Alan de Abreu e Caros Petrocilo
O livro indicado neste mês foi publicado em 2018, pela Editora Record e é leitura obrigatória para os amantes do esporte bretão. Trata-se da biografia não autorizada de J. Hawilla, personagem mítico do futebol brasileiro e sul-americano, que começou a sua carreira como radialista e repórter de campo para construir um império de riqueza, tornando-se um dos empresários mais influentes do esporte.
A obra é fruto de uma pesquisa impressionante, oriunda da experiência jornalística dos seus autores. No livro, a vida de J. Hawilla é investigada desde o início da carreira até o momento em que se torna delator do FBI, colaborando para o processo que colocou na cadeia boa parte da cartolagem sul-americana, inclusive o ex-presidente da CBF José Maria Marin.
O livro interessa não apenas aos que amam o futebol, mas a todos que desejam conhecer o submundo da cartolagem e as engrenagens de poder de uma das maiores indústrias de entretenimento do mundo. A obra traz muitas informações exclusivas e vários detalhes de contratos e negociatas, quase sempre produzidos longe da luz do sol.
A corrupção no futebol deste período foi tão escancarada e trouxe tantas aventuras, surpresas e reviravoltas para os seus principais personagens que parece uma história de ficção, mas não é. Mostra apenas o absurdo da colonização de associações, federações e confederações, pela lógica do lucro pessoal, orientada por interesses privados, quase sempre amparados em conexões políticas relevantes.
Por tabela, a história mostra a fragilidade das instituições e da justiça nos países da América Latina, porque curiosamente a quadrilha das Confederações nacionais só é verdadeiramente confrontada pela Justiça americana, país de pouca tradição no esporte, mas com instituições mais rígidas.
Além de todo o interesse histórico que a obra desperta, é um livro muito bem escrito, com narrativa instigante e fluída. Uma verdadeira aula de jornalismo, que deveria ser obrigatória em qualquer curso ou redação.
Rafhael Frattari
Sócio fundador do VLF Advogados, responsável pela área tributária
Negação (filme)
Para quem gosta de filmes sobre julgamentos ou baseados em fatos reais, o drama histórico Denial (ou Negação) é uma ótima pedida.
O longa-metragem de 2016, dirigido por Mick Jackson e escrito por David Hare, foi baseado na obra literária de Deborah Lipstadt, History on Trial: My Day in Court with a Holocaust Denier (História em julgamento: meu dia no tribunal com um negador do Holocausto).
Disponível no Netflix, Negação conta a história do julgamento do processo de difamação movido pelo historiador David Irving (representado pelo indicado ao prêmio BAFTA, Timothy Spall), que descarta a existência do Holocausto, contra a pesquisadora e escritora Deborah Lipstadt (interpretada pela vencedora do Oscar, Rachel Weisz). Irving alega que foi prejudicado pelas publicações da escritora Lipstadt que o classificavam como “Negador”.
A irônica inversão de papeis se transforma numa batalha legal em busca da verdade histórica de Deborah Lipstadt, que se viu obrigada a provar a ocorrência do Holocausto e as falsidades da história de Irving para se livrar do banco dos réus e desacreditar o historiador negacionista.
O filme se baseia no relato da ré, Lipstadt, e a produção teve a colaboração dos advogados que a defenderam, valendo destaque para as intensas disputas de narrativas jurídicas e para as vestimentas da Corte, usadas até hoje.
Se por um lado a negação pura e simples do Holocausto parece devaneio e soa como afronta perante o sofrimento de milhões de mortos e sobreviventes, o filme traz reflexões bastante pertinentes ao mundo atual. Além dos aspectos históricos e jurídicos pra lá de interessantes, Negação convida o espectador a pensar sobre a liberdade de expressão, intolerância, discriminação, política e, acima de tudo, respeito.
Fica a dica!
Eduardo Metzker Fernandes
Coordenador da Equipe de Contencioso Cível do VLF Advogados