O mapeador de ausências, de Mia Couto (livro) e Halston, de Ryan Murphy (série)
Rafhael Frattari e Sabrina de Araújo Frattari
O mapeador de ausências, de Mia Couto (livro)
Sem qualquer razão aparente, nunca havia lido absolutamente nada do autor moçambicano Antônio Emílio Leite Couto, conhecido no mundo todo simplesmente como Mia Couto. Hoje, sinto-me arrependido e, também, eufórico, pela simples ideia de que ainda há vários livros dele a serem conhecidos. Se algum for minimamente comparável a O mapeador de ausências, estará ótimo.
O livro é lindo, de uma sensibilidade ímpar. Narra a volta de um escritor de meia idade, envolto a sintomas de depressão, a sua cidade natal, Beira, em Moçambique. A trama alterna momentos atuais, com lembranças do autor e relatos havidos na época da colonização e da luta dos movimentos de independência na África.
A obra é um grande repositório de reflexões e frases belíssimas, quase um poema em forma de prosa, talvez para homenagear um dos protagonistas, o pai do personagem principal. Pai poeta, filho escritor.
O livro é intimista pela escolha do narrador, mas ao mesmo tempo dinâmico, construindo a narrativa por meio de histórias esclarecidas por camadas temporais distintas, que vêm e vão em novos encontros, relatos, cartas, lembranças, muito bem trabalhadas pelo autor. Para mim, uma grande obra da língua portuguesa, escrita em “português de Portugal”, o que ao invés de complicar a leitura, tornou-a deliciosa.
Por fim, li na edição conjunta entre a TAG e a Companhia das Letras, que fizeram um trabalho maravilhoso, da capa à diagramação. Excelente livro. Não percam.
Rafhael Frattari
Halston, de Ryan Murphy (série)
Uma das coisas mais intrigantes em assistir essa série é a pergunta que você fatalmente fará no 5º e último episódio: como eu nunca ouvi falar do Halston? Trata-se de um estilista americano que revolucionou o mundo glamouroso (há controvérsias) da moda.
A produção da Netflix conta com Ewan Macgregor, ator bastante festejado por performances anteriores, como na franquia Star Wars ou em Moulin Rouge. Em Halston, o ator repete o sucesso, com uma atuação icônica, que traz a sensação em algumas cenas de que você está diante de um documentário e não de uma série de dramaturgia. Simplesmente genial! No entanto, o ator não está sozinho, pois o elenco todo funcionou muito bem, representando pessoas de sucessos no mundo da moda e dos tresloucados anos 1970 em Nova York. Aparecem personagens que passaram décadas no imaginário coletivo ocidental, como a atriz Lisa Minelli.
Ainda devem ser destacadas a cenografia, fotografia intimista e composição histórica da série, que retrataram muito bem os períodos abordados e não apenas a moda. Em verdade, embora a moda seja o fio condutor da história, a vida do artista foi muito além dos holofotes da haute couture, passeando da transgressão aos costumes e ideias à colonização da alta costura pela massificação do mercado da moda e pelo surgimento da “industrialização” da cultura.
Em resumo: a obra tem vários ingredientes para além de sexo, drogas e rock and roll. Retrata vários dramas em torno do amor, da amizade e das mazelas do mundo corporativo. É ainda uma ótima aula sobre história da moda, com trilha sonora de primeira.
Imperdível!
Sabrina de Araújo Frattari