Conversa no Catedral, de Mario Vargas Llosa (livro) e Mosul (filme)
Marina Leal e Leonardo André Gandara
Conversa no Catedral, de Mario Vargas Llosa (livro)
Ambientado no Peru da década de 1950, e tendo como pano de fundo os conflitos políticos da época, Conversa no Catedral é um livro que demanda atenção, mas que nos recompensa com uma trama muito bem elaborada. A história possui diversas camadas, e, com a leitura, vamos “descascando” e nos aprofundando cada vez mais, até chegarmos em um núcleo em que, ao fim, tudo se explica.
Assim, é um daqueles livros que vai, aos poucos, se revelando. Por não seguir uma linha temporal contínua e por, em vários momentos, intercalar diálogos do passado e do presente, o início da leitura, e a própria compreensão da história a princípio, é difícil. Contudo, com o passar dos capítulos a leitura passa a fluir bem mais e as dúvidas que iam surgindo no início vão se explicando (evidentemente, muitas vezes é preciso voltar e reler alguns capítulos para as coisas fazerem sentido). Como já está claro, não é uma leitura fácil, mas que com certeza vale a pena.
A história gira em torno, principalmente, de dois personagens, Santiago Zavala (ou Zavalita) e Ambrosio. Aquele, nascido em família de classe média alta, que flertou com o comunismo e se tornou jornalista, e este, motorista da família de Santiago que acabou por se envolver, meio que inadvertidamente, com a trama política. Logo no início do livro, os dois se encontram por acaso, após vários anos sem se ver, e resolvem colocar a conversa em dia em um bar chamado Catedral (o que explica o título). Além dos dois, temos também diversos outros personagens emaranhados nas teias do livro. Para não adiantar muito da história: políticos do regime ditatorial (em especial Cayo Bermúdez, uma das principais figuras responsáveis pela repressão no país), seus “ajudantes”, funcionários e amantes, a família Zavala, colegas de Santiago, outros jornalistas... A lista é extensa, mas bem construída.
Por fim, o autor dispensa introduções, sendo um dos principais nomes da literatura latino-americana e agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura de 2010. Vargas Llosa já disse, inclusive, que se tivesse que salvar apenas um de seus livros do incêndio, seria este.
Para aqueles que se interessaram, vale (muito) a leitura!
Marina Leal
Advogada da Equipe de Arbitragem e Contratos do VLF Advogados
Mosul (filme)
Mosul, da Netflix, direção de Matthew Michael Carnahan. Aproveitando as discussões e críticas sobre a desastrada saída das forças ocidentais de ocupação do Afeganistão, esse filme fala sobre a libertação da cidade de Mosul, no Iraque, dos malucos do Estado Islâmico, o Daesh.
O filme é baseado em um artigo publicado na revista New Yorker sobre um grupo de policiais naturais daquela cidade que se juntam em uma luta insana contra o grupo terrorista do Estado Islâmico. Em meio a miséria e escombros da guerra que se sucedeu à ocupação dos EUA e do Reino Unido, o que resta da cidade nos põe a questionar o que leva alguém a lutar por ruínas.
Filme falado em árabe, super bem-feito, sem firula, diálogos diretos, roteiro afiadíssimo. A insistência que o ocidente tem de tentar impor regimes pela força, além de alimentar seu complexo industrial bélico, só cria mecanismos de retroalimentação de terrorismo e violência. Filmaço!
Leonardo André Gandara
Advogado e professor em Belo Horizonte