Lake Success (livro), de Gary Shteyngart e Portas (álbum), de Marisa Monte
Rafhael Frattari e Sabrina de Araújo Frattari
Lake Success (livro), de Gary Shteyngart
O romance é ambientado nos EUA e tem como enredo a vida de Barry e as conturbadas relações pessoais em uma família rica, de Nova York, utilizando como pano de fundo a época de pós-verdade e de desesperança da era Trump. A história conta a traição do personagem principal, Barry, e o processo de separação de sua esposa, Seema.
Também escrutina os valores correntes no mercado financeiro, com a sua corrida para o sucesso. Traz passagens dramáticas, mas algumas delas com uma boa dose de humor.
Acuado por uma traição descoberta, um filho autista que não compreende e problemas com o FBI pela sua atuação no mercado financeiro, o protagonista se lança a uma insana, trágica e engraçada viagem de ônibus pelo interior dos EUA. Para alguém acostumado a usar jatinhos e a não entrar numa fila nem para comprar um pão, obviamente, a viagem é um suplício, mas também traz aventuras e descobertas.
Gostei bastante do livro, bem escrito, crítico, realista, no melhor estilo da boa literatura americana contemporânea. Para mim, foi o melhor livro de 2019.
Rafhael Frattari
Sócio da área Tributária do VLF Advogados
Portas (álbum), de Marisa Monte
Em trabalho inédito, depois de um intervalo de dez anos, a cantora Marisa Monte lança Portas, álbum composto por dezesseis canções.
Faço um parêntese sobre os ouvidos que tenho, sempre tão hostis a novidades: sou do tipo que fica escutando a mesma playlist durante anos, pois tenho preguiça em conhecer novos álbuns e considero que artistas como Marisa Monte deveriam cantar somente os clássicos.
Aí que está: o novo álbum é uma sucessão de músicas maravilhosas que cai no gosto do ouvido e da alma quase imediatamente. É um álbum magnético, bonito e inspirador. Portas é otimista, faz menção a dias melhores e traz muitos elementos que falam da natureza. Em tempos ainda pandêmicos, não haveria melhor momento para que as letras trouxessem alento e otimismo.
Considero que o segredo de tanta beleza e sucesso vem da forma colaborativa que Marisa Monte sempre atuou, e que não foi diferente neste trabalho. As parcerias foram certeiras e renderam grandes canções. Estão no álbum como coautores de algumas faixas, parceiros das antigas: Arnaldo Antunes e Dadi Carvalho na faixa título e em “A língua dos Animais”, Nando Reis em “Praia Vermelha” e Seu Jorge em “Pra Melhorar”.
No álbum é maior a presença de novas parcerias, tendo como destaque Chico Brown, o multi-instrumentista filho de Carlinhos Brown e neto de Chico Buarque. Assina com Marisa cinco canções, entre as quais destaco “Calma”, “Dejá Vu” e “Em qualquer Tom” – uma clara homenagem a Tom Jobim.
Marcelo Camelo é coautor de “Sal” e “Você não Liga”, além de ter composto sozinho “Espaçonave”. Com o capixaba Silva, ela fez “Totalmente Seu”.
O amor e a reverência que Marisa sempre teve pela Portela também estão presentes no disco no samba “Elegante Amanhecer”, em que ela dividiu a criação com Pretinho da Serrinha, músico da banda.
A parte visual do disco é assinada pela artista plástica Marcela Cantuária. A cantora seguiu a artista nas redes sociais durante dois anos e suas pinturas, cheias de mistérios, fantasias, oratórios, feminismos, cores e imagens se tornaram uma enorme fonte de inspiração para Portas.
Portas é arrebatador, uma viagem ao que se tem de melhor na MPB.
Sabrina de Araújo Frattari
Advogada em Belo Horizonte